APRESENTAÇÃO DO MUS-E PORTUGAL
1. Introdução
Yehudi Menuhin (1916-1999), um dos maiores intérpretes musicais do século XX e um humanista excepcional, fundou, em 1991, a International Yehudi Menuhin Foundation, com sede em Bruxelas, com o objectivo de coordenar e desenvolver acções e projectos culturais “para dar voz aos que não têm voz”. Nesse sentido e valorizando a importância das expressões artísticas no desenvolvimento das crianças, em 1993, Menuhin, em colaboração com Werner Schmitt, director da escola de música do Conservatório de Berna, concebeu um projecto com finalidades artísticas, pedagógicas e sociais: o Programa MUS-E®.
Este Programa, de grande repercussão internacional, iniciou-se, na Suíça, em 1993 e, atualmente, desenvolve-se em 10 países europeus (Alemanha, Bélgica, Chipre, Espanha, Hungria, Itália, Kosovo, Liechtenstein, Portugal e Suíça) no Brasil e em Israel, abrangendo mais de 500 escolas, de 61.000 crianças, de 3600 professores e de 500 artistas.
A Fundação Internacional Yehudi Menuhin (IYMF) está a desenvolver parcerias com parceiros locais para reviver ou estabelecer novas associações em outras partes da Europa, nomeadamente em França, Áustria, Inglaterra, Grécia e Roménia.
Ao longo dos anos, a IYMF e o MUS-E Internacional obtiveram diversas distinções, destacando-se o Prémio Internacional Calouste Gulbenkian, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 2011.
Yehudi Menuhin visitou Portugal, contactando o Ministério da Educação e outras instituições, com o intuito de iniciar o Projecto MUS-E no nosso país. Com efeito, em outubro de 1996, o MUS-E foi introduzido em Portugal sob o impulso de Helena Vaz da Silva e de Cristina Brito da Cruz, com o apoio do Departamento de Educação Básica do Ministério da Educação. A Escola EB1 nº 1 de Algés, a primeira escola onde se iniciaram as actividades do MUS-E, seria visitada, em 1998, por Yehudi Menuhin, que a descreveu como “l’ École de mes rêves“.
Em 2000, a coordenação do MUS-E Portugal foi assumida pela Associação Yehudi Menuhin Portugal (AYMP), mantendo-se, até 2012, o apoio do Ministério da Educação (em 2016/17 o Ministério apoiou pontualmente o MUS-E Portugal).
Actualmente, a Direcção da AYMP é presidida pelo Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, sendo a Assembleia Geral presidida pelo Prof. Eduardo Marçal Grilo e o Conselho Fiscal pela Dr.ª Margarida Abecasis.
2. Objetivos
O Programa MUS-E tem por objetivo desenvolver as áreas de expressão artística nas escolas públicas do ensino básico (1º ciclo e 2 ciclo) e na educação pré-escolar, sensibilizando as crianças para a fruição da arte e possibilitando-lhes o acesso a formas de expressão e de comunicação diversificadas. Ao constatar a existência de situações de violência, de racismo e de exclusão escolar e social, com consequências graves no absentismo e no insucesso escolar de crianças muito jovens, o MUS-E propõe-se também contribuir para a prevenção e diminuição desses problemas.
De acordo com os princípios do programa português, as escolas onde o MUS-E se desenvolve são seleccionadas por servirem grupos populacionais socialmente provenientes de contextos vulneráveis nos quais se pode fazer notar, de forma significativa, a presença de crianças oriundas de culturas minoritárias, nomeadamente, africanas, ciganas e de países do Leste Europeu. Essa selecção é realizada pela Direção da Associação Yehudi Menuhin Portugal, após solicitação expressa pelos órgãos directivos escolares e, nos casos aplicáveis, parecer favorável do Ministério da Educação.
3. Metodologias
O MUS-E não é baseado num método didáctico, antes incentivando a concepção de metodologias flexíveis e adequadas aos intervenientes e às situações específicas de cada atividade promovida. Recusando qualquer dogmatismo, não se exclui que essas metodologias possam adaptar ou interligar criativamente metodologias pré-existentes.
No entanto, as metodologias utilizadas têm que ser coerentes com os objetivos do MUS-E, como tal, devem basear-se numa pedagogia assente na participação interveniente e criativa de todas as crianças nas atividades, bem como na cooperação, no respeito pelas diferenças e na responsabilização individual.
4. Atividades
Sessões regulares nas turmas
As sessões regulares do MUS-E Portugal integram-se nas actividades curriculares da escola, ocupando, ao longo de todo o ano lectivo, tendencialmente, 10% do tempo curricular total e repartem-se por três áreas principais: área de Expressão Musical, área de Expressão Dramática e área de Movimento e Dança; por vezes, outras áreas artísticas, nomeadamente a Escrita Criativa e a Expressão Plástica, também são contempladas. As sessões realizadas atendem à diversidade cultural da população de cada escola, integrando atividades artísticas das culturas de origem de todos os alunos.
Estas sessões são planificadas e avaliadas conjuntamente com as professoras/es e educadoras/es e contam com a participação das/os mesmas/os.
Outras actividades
Além das sessões regulares com os alunos, o MUS-E promove iniciativas muito diversificadas nas escolas e comunidades onde está inserido, como sejam a organização e participação em diversos eventos escolares e comunitários, a realização de sessões integrando trabalho interdisciplinar e transdisciplinar e a realização de sessões abertas envolvendo pais, outros familiares e alunos.
O MUS-E Portugal promove também a realização de workshops artísticos e pedagógicos para professoras/es e educadoras/es e todos os outros profissionais a trabalhar nas escolas, bem como a cooperação com Escolas Superiores de Educação e outras instituições do Ensino Superior das áreas das Artes, da Educação, da Psicologia e da Sociologia.
Para promover a partilha de experiências e a formação dos Artistas / Animadores Artísticos, o MUS-E organiza os Encontros Nacionais de Artistas.
5. Estrutura organizativa
Coordenador Nacional
O MUS-E Portugal tem sido dirigido por um coordenador nacional, o qual é membro da Direção da Associação Yehudi Menuhin Portugal e é nomeado por esta.
O coordenador nacional é o responsável pelo funcionamento geral do mesmo, cabendo-lhe zelar pelo cumprimento dos seus objetivos, pelo bom desenvolvimento das atividades e pela sua eficaz divulgação.
Cumpre-lhe também elaborar o relatório anual de actividades e propor à Direção da AYMP o plano de actividades e o orçamento para o ano subsequente. Cabe-lhe ainda seleccionar os coordenadores locais, organizar e dirigir reuniões trimestrais com esses coordenadores, visitar todas as escolas onde o MUS-E está implantado (observando sessões MUS-E e reunindo com o coordenador local, os artistas, os órgãos de direção dos Agrupamentos Escolares, os órgãos de coordenação das escolas e os professores), promover e organizar os Encontros Nacionais de Artistas e outros eventos a nível nacional.
Compete-lhe ainda representar o MUS-E Portugal a nível nacional e internacional, designadamente, no âmbito de iniciativas promovidas pela International Yehudi Menuhin Foundation, nomeadamente participando nas reuniões do International MUS-E® Council.
O cargo de coordenador nacional foi exercido, inicialmente por Cristina Brito da Cruz, em 2001/02 por Margarida Moura, e de 2002/03 a 2017/18 por Pedro Saragoça Martins.
Os coordenadores nacionais têm sido co-adjuvado por uma assessora da direção da AYMP, a qual também assegura as áreas administrativa e financeira, bem como os contactos com todos os elementos envolvidos nos Projetos. Esse cargo foi exercido por Maria Leonor Cambournac, desde Julho de 2001, que assume também a coordenação nacional desde 2018/19.
Coordenadores Locais
Em cada escola (ou grupo de escolas, quando situadas no mesmo concelho ou em concelhos vizinhos), o MUS-E é representado por um coordenador local.
No âmbito das suas funções, os coordenadores locais seleccionam os artistas / animadores artísticos para as escolas sob sua responsabilidade, visitam essas escolas regularmente, participam nas reuniões dos órgãos directivos escolares em que o MUS-E seja objecto de planificação ou de avaliação, cooperam com os órgãos diretivos dos Agrupamentos em que essas escolas se inserem, organizam e dirigem reuniões com os artistas e procuram angariar apoios a nível concelhio ou regional.
Também lhes compete promover actividades de formação para as professoras/es, educadoras/es e outros profissionais das escolas, promover atividades para e com os familiares dos alunos (sessões abertas e outras) e para a comunidade envolvente, bem como contribuir para a visibilidade do MUS-E, nomeadamente, atualizando os conteúdos dos MUS-E locais no website da AYMP.
Os Coordenadores Locais, no ano escolar 2022/23, são os seguintes:
- MUS-E Leiria: Rui Amado, Curso secundário na Área Vocacional de Música e frequência do Conservatório do Orfeão de Leiria. Músico profissional, escritor de canções e produtor com trabalhos editados no mercado; elemento do grupo Banda da Catraia; animador musical no Jardim do Fraldinhas, creche/infantário e primeiro ciclo privado em Leiria; mentor e professor no projeto Tradiscola, cujo objetivo é o de ensinar instrumentos e música tradicionais portugueses. Artista do MUS-E em Leiria desde 2004/05 e também Coordenador Local de 2008 a 2011 e desde 2018/19. É secretário da Mesa da Assembleia Geral e membro do Conselho Artístico da AYMP.
- MUS-E Lisboa: Mário Palma, licenciado em Animação Sociocultural e Pós-graduação em Educação Social e Intervenção Comunitária pela Escola Superior de Educação Lisboa, do Instituto Politécnico de Lisboa; Curso Profissional de Formação de Atores e Animadores Culturais na Comuna/Teatro de Pesquisa; formação em dança Clássica, Danças Moderna e Dança Jazz; Bailarino, professor de dança. Artista do MUS-E Portugal no inicio do Projecto em 1996, continuou sempre a colaborar com a AYMP, nomeadamente em vários projetos internacionais em que a AYMP tem participado, foi Coordenador Local do MUS-E Lisboa desde 2018/19 e entre 2009 a 2012. É membro da Direção e do Conselho Artístico da AYMP.
- MUS-E Minho: Mercedes Prieto, licenciada em Química pela Universidade de Santiago de Compostela (1995) e licenciada em Dança pela Faculdade de Motricidade Humana (2005), doutorada em Ciências da Educação pela Universidade de Évora onde desenvolveu investigação sobre às potencialidades da Dança como facilitadora de aprendizagens diversos no primeiro ciclo de ensino básico, nomeadamente na área da Didática da Matemática. Colabora com a Associação Yehudi Menuhin Portugal desde o ano 1999, como artista de Movimento e Dança. É membro do Conselho Artístico da AYMP
- MUS-E Oeiras: Efthimios Angelakis, licenciado em Dança pela Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, com Mestrado em Estética – Artes Performativas, pelo Departamento de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa; coreógrafo, intérprete e encenador; professor de Expressões no Ensino Secundário. Artista do MUS-E Portugal desde 2002/03, Coordenador Local do MUS-E Oeiras desde 2010, tem colaborado em vários projetos internacionais em que a AYMP tem participado. É vogal do Conselho Fiscal e membro do Conselho Artístico da AYMP.
- MUS-E Évora:A coordenadora nacional está a assumir interinamente também a coordenação local.
Artistas
Os responsáveis pelo trabalho directo com as crianças são os artistas do MUS-E, ou seja, profissionais com formação pedagógica e especializados nas diferentes áreas artísticas ou artistas com competência pedagógica. Trabalhando em colaboração estreita com as/os professoras/es das escolas, os artistas desempenham um papel decisivo na prossecução dos objetivos do Projeto.
Os artistas são rigorosamente seleccionados após análise do seu currículo profissional e a realização de entrevistas em que é avaliada a adequação das suas capacidades ao trabalho específico a desenvolver em cada escola.
6. Disseminação
No ano escolar de 2022/23, o MUS-E Portugal abrange dez Escolas / Jardins de Infância em diferentes regiões do país:
- Escola EB1 da Cruz da Picada (Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício), no Bairro da Malagueira, concelho de Évora;
- Jardim de Infância da Cruz da Picada (Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício), no Bairro da Malagueira, concelho de Évora;
- Escola EB2/3 da Malagueira (Agrupamento de Escolas Manuel Ferreira Patrício), no Bairro da Malagueira, no concelho de Évora;
- Escola EB 2,3/S Aquilino Ribeiro (Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro) em Porto Salvo, concelho de Oeiras;
- Escola EB1 /JI Pedro Álvares Cabral (Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro) em Porto Salvo, concelho de Oeiras;
- Escola EB1/JI de Porto Salvo (Agrupamento de Escolas Aquilino Ribeiro), em Porto Salvo, no concelho de Oeiras;
- Escola EB1/JI Maria da Luz de Deus Ramos (Agrupamento de Escolas do Alto do Lumiar), no Bairro das Galinheiras, concelho de Lisboa.
- Escola EB1 da Quinta do Alçada (Agrupamento de Escolas de Marrazes), concelho de Leiria;
- Escola EB1 dos Marinheiros (Agrupamento de Escolas de Marrazes), concelho de Leiria;
- Escola Básica e Secundária do Vale do Âncora (Agrupamento de Escolas do Concelho de Caminha), no concelho de Caminha.
Em anos anteriores, o MUS-E esteve também na Escola EB1/JI n.º 1 de Algés, posteriormente designada Escola EB1/JI Sofia de Carvalho (no concelho de Oeiras); na Escola EB1/JI de São Lourenço (concelho de Vila Nova de Gaia); nas Escolas EB1 do Cerco e EB1/JI do Lagarteiro (ambas no concelho do Porto); Escola EB1 de Marrazes (concelho de Leiria); na Escola EB1 de S. Gens (concelho de Matosinhos); na Escola EB1 de São Teotónio (concelho de Odemira) e no CED D.ª Maria Pia (Casa Pia de Lisboa).
7. Avaliações e pareceres
A nível externo, o MUS-E Portugal, enquanto foi apoiado pelo Ministério da Educação, foi avaliado anualmente por este, tendo merecido sempre avaliação positiva.
Em 2006, o MUS-E Portugal foi sujeito a um detalhado e rigoroso processo extraordinário de avaliação, solicitado pelo Ministério da Educação e realizado por uma entidade independente, o IESE. As conclusões dessa avaliação sobre o trabalho desenvolvido pelo MUS-E Portugal ao longo de dez anos consecutivos são, na generalidade, extremamente positivas, recomendando ao Ministério a continuação do apoio e o alargamento do Projeto. Estas conclusões estão sintetizadas no capítulo Projecto MUS-E, Resultados de uma Avaliação Externa, dos Cadernos Sociedade e Trabalho, n.º 10, com coordenação de António Oliveira das Neves e edição do MTSS / GEP.
Os bons resultados alcançados pelo MUS-E nas diversas escolas em que está implantado também têm sido realçados em pareceres emitidos por muitos coordenadores de Escolas, membros de órgãos directivos de Agrupamentos Escolares, professores, Associações de Pais e Encarregados de Educação e autarcas.
A nível interno, os Coordenadores Locais apresentam relatórios trimestrais e anuais do trabalho desenvolvido em cada escola, os quais são analisados e discutidos em reuniões com o Coordenador Nacional. Por seu lado, o Coordenador Nacional elabora o relatório nacional anual, o qual, depois de aprovado pela Direção da AYMP, é apresentado em Assembleia Geral.
Em 2007, o Ministério da Cultura reconheceu, pela primeira vez, o Interesse Cultural do MUS-E Portugal, reconhecimento esse que tem sido sucessivamente renovado e mantém-se até hoje.
Também em 2007, a Organização Internacional das Migrações (OIM), o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P. (ACIDI, I.P.) e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), instituições promotoras do Mapeamento de Boas Práticas de Acolhimento e Integração de Imigrantes em Portugal, reconheceram a Associação Yehudi Menuhin Portugal como uma entidade que contribui para uma melhor integração dos imigrantes na sociedade portuguesa.
A nível internacional, o trabalho desenvolvido pelo MUS-E Portugal tem sido considerado como um exemplo de boas práticas pela International Yehudi Menuhin Foundation. Como prova do apreço pelo trabalho desenvolvido pela Associação Yehudi Menuhin Portugal, a IYMF tem distinguido a AYMP com convites para a co-organização de diversos eventos com repercussão internacional, com especial destaque para a Conferência Europeia “Let’s MUS-E Together”, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian.